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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Quando as infelicidades vêm de mãos dadas


Nesta última semana pura e simplesmente desapareci do mapa. Andei algum tempo a pensar se escreveria por aqui alguma coisa ou não até que com um tempinho livre me decidi, entretanto vou rezando para que a bateria do computador não se acabe.

A semana passada, fui a uma "entrevista" e consegui estágio na terça-feira, finalmente. Na quinta era feriado e resolvi tirar a quarta e sexta para ir ao centro de emprego informar-me sobre algumas coisas e à ordem dos arquitectos inscrever-me.

Quarta-feira à hora do almoço lá fui eu ao centro de emprego e quando fui atendida, comecei a receber chamadas da minha mãe que rejeitei, mas ela teimava em ligar incessantemente. Quando saí, tinha a minha irmã à espera que me disse que tinham telefonado porque a minha avó de 91 anos, acamada à poucos meses precisava de ir ao hospital. Penso que ninguém me disse do que se tratava realmente com medo porque tinha de conduzir até casa, pouco preocupada ainda fumei um cigarro e depois fui para casa, de repente dei por mim, por algum motivo, mais preocupada e resolvi acelarar até casa. Cheguei ao mesmo tempo do inem e mandei à minha frente a minha irmã enquanto segurava a porta para o pessoa da emergência entrar. Quando subi fui recebida em lágrimas. Tinha acontecido o pior. Depois disto andei a correr para o centro de saúde, com polícia atrás porque era preciso uma certidão de óbito, caso contrário ainda tinha de ir para o instituto de medicina legal.

Ora, sempre vivi com a minha avó. Assaltávamos as bolachas durante a noite, lembro-me de me adormecer ao colo, durante muitos anos partilhamos o mesmo quarto e sempre que possível, principalmente no inverno, fazia questão que partilhássemos a mesma cama. Rimos juntas, choramos juntas, envelhecemos juntas, era a minha confidente e minha maior amiga, principalmente antes de ter irmã ou que esta tivesse idade para conversar e brincar comigo. Ainda há dois anos atrás  era uma guerreira, punha o seu chapeuzinho e óculos de sol e lá ia ela sozinha durante umas duas horas dar a volta a pé ao quarteirão, tomava um café, sentava-se no banquinho de jardim.... Era uma pessoa cheia de energia, força, amor e histórias para contar. 

Estes dois anos para mim foram quase totalmente passados em casa, o 1º a fazer a tese para acabar o curso, o 2º à espera de arranjar estágio e porque a situação se foi complicando e não queria arredar pé de casa. O irónico da coisa é que no 1º dia que saí para tratar de vida, que saí de casa com intenção de ir trabalhar ela faleceu. 

Isto fez-me pensar, questionar e ficar irritada. Depois de tanto tempo em casa, porque tinha de acontecer quando sai? Porque não me pude despedir? Porque saí de casa a correr e nem um beijinho lhe dei? Perguntas, perguntas, perguntas...... nem sequer consigo pensar mais nisso. Não sabia se sorrir ou se chorar, sabia que ela finalmente estava em paz, sei que viveu uma vida longa e cheia de amor, mas sabia que não a ia ver mais e arrependia-me de tudo o que não tinha feito e chorava por tudo aquilo que já não iria fazer Para mal dos nossos pecados, contaram ao filho (meu tio que também já estava doente) o que tinha acontecido e faleceu também. E é quando as tristezas vêm de mãos dadas....

Foi o velório, foi a cremação, num vai e vem de gente que metade nem sabia quem era, só queria que fosse toda a gente embora para ficar em paz. Acabado isto tudo e toda a euforia estúpida de movimento e coisas para tratar que se gera nestes momentos que deviam ser de tranquilidade enfiei-me em casa, enfiei o pijama e chorei baba e ranho durante três dias seguidos. Tenho de agradecer às pessoas que me são mais próximas pelo carinho, paciência e força que me deram, por cima das suas próprias dores.

É muito doloroso, e muito difícil e sei que não posso pensar mais nisto, não posso pensar nos quês e porquês das coisas. Já olhei vezes sem contas as nossas fotografias e só consigo sorrir e pensar em como tinha uma avó linda, amorosa e com um ar tão feliz e sereno.

Agora já estou a estagiar, nem tudo são rosas, não sou remunerada mas também tenho muito para aprender.

E fica aqui um post completamente fora do habitual, para quem passa aqui por mais que sorteios e afins.

E agora devo ter um anjo da guarda algures a tomar conta de mim e a sorrir por eu estar muito mais serena!


*****

5 comentários:

  1. Minha Querida. Sinto muito pela sua perda. Tenho certeza que ela está bem e muito orgulhosa de Ti. Nem sempre somos capazes de entender os mistérios da vida e da morte. Para a dor da saudade há apenas o remédio do tempo que a brindará com lindas e doces lembranças. Meu forte abraço, do outro lado do Atlântico

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  2. Os meus sentimentos e muita força. Infelizmente a vida nem sempre nos sorri. Onde quer que ela esteja, está a olhar por ti :)

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  3. lamento a perda. Estará sempre a olhar para ti e a dar.te força nesta nova etapa da vida.

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  4. Sinto muito pelo sucedido. Acredita que as perguntas vão andar sempre por ai, mas por mais que as pessoas te digam as varias hipoteses de resposta, só tu um dia, iras ter essas respostas. Não te culpes, estava destinado a tal, e pela tua avó e tio, agarra com as duas mãos a oportunidade do estagio e tem força que eles vão estar sempre ao teu lado para te dar um empurrão e uma pancadinha nas costas quando precisares de impulso. Beijo

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  5. Muita força é o que posso desejar, mas sabendo que nestas horas poucas são as palavras que nos reconfortam. A certeza que podemos ter é que a saudade vai ficar para sempre na nossa vida quando perdemos alguém querido e sempre em crescendo. Mas também ter a certeza de que algures no Universo temos um anjo a olhar por nós. Beijinho

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